Descrição

O Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado e as capelas-salão

Em dezembro de 1959, o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Cerejeira publicou nos diários da capital uma importante carta em que alertava para o problema da construção das novas igrejas em todo o território do Patriarcado: eram necessárias, com urgência, 70 novas igrejas e 115 capelas. Para promover e orientar tão vasto empreendimento, decidiu criar, a 6 de janeiro de 1961, o Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado (SNIP), tendo nomeado seu diretor técnico o arquiteto Diogo Lino Pimentel, recém-chegado de Bolonha, onde estagiara durante um ano, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, no Centro di Studio e Informazione per l’Architettura Sacra, sob a orientação dos arquitetos Giorgio Trebbi e Glauco Gresleri. Esta decisão marcou o início de uma época de construção de edifícios religiosos sem paralelo na história da arquitetura portuguesa. Ao longo de cinco décadas, que acompanharam os episcopados dos Cardeais Cerejeira (1929-71), Ribeiro (1971-98) e Policarpo (1998-2013), o SNIP fez consultadoria, elaborou pareceres, planeou território, projetou igrejas novas e interveio em antigas, contabilizando-se hoje mais de 200 obras e projetos que conheceram aquele serviço. Dentre este vasto conjunto, ganham particular interesse histórico e social, as capelas-salão, de que se construíram cerca de 30 unidades em 19 concelhos distintos.

O SNIP, criado em resposta aos desafios levantados pelo território urbano em rápida expansão, foi um gabinete de características únicas no nosso país, tendo seguido os passos de outras estruturas europeias similares. Enquadrado nos movimentos de diálogo da Igreja Católica com a modernidade e motivado para a construção de um projeto reformista simultaneamente religioso e social, o SNIP originou uma obra sem paralelo na historiografia portuguesa que está por conhecer. De Bolonha, o SNIP herdou uma matriz de intervenção atenta às dinâmicas urbanas e sociais próprias de um território em expansão e reestruturação, associada à tradução de conceitos pastorais numa arquitetura integrada nas características formais de cada local. Atento à evolução dos diversos setores do mundo moderno e motivado para a participação num projeto reformista de cariz religioso e social, o SNIP desenvolveu a proposta de capela-salão, que se afirmou como veículo pastoral de uma identidade religiosa em transformação no novo contexto secular.

As capelas-salão, assim denominadas atendendo à dupla finalidade a que deveriam responder – a vida cultual e a vida de relação, convívio, ensino, formação, recreio, etc. – foram projetos-tipo de baixo custo de construção que pretendiam responder a distintas necessidades das comunidades locais. Eram compostas por um pequeno espaço-capela, com capacidade de 20 a 30 lugares sentados, que podia ser ampliado em dias de maior afluência pela abertura de amplas portas de correr que punham em comunicação este espaço com um salão multiusos de capacidade variável, mas não ultrapassando os 200 lugares sentados. Estas soluções negavam o modelo de mega-estrutura dos complexos paroquiais e foram testemunho de uma igreja "pobre e servidora" para as pequenas comunidades.

Dos dez projetos-tipo de capelas-salão previstos no dossier intitulado “Projectos-tipo executados pelo Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado”, datado de 1972, apenas três não saíram do papel, sendo que ao longo das décadas de 1970 e 1980 foram construídas cerca de 30 unidades em 19 concelhos distintos. Estas experiências converteram-se num "laboratório" para a síntese do programa de arquitetura litúrgica e pastoral explorando a unidade tipológica e testando modelos de flexibilidade e versatilidade. Assim se exprimiu o desejo da vivência de um espaço não exclusivamente para o culto, no seguimento do novo significado dado à compreensão das atividades pastorais que incluíam atividades "profanas" e "sagradas". O interesse por estas pequenas obras de arquitetura que exploravam o sentido comunitário e quotidiano da experiência religiosa abriu as portas à sua aplicação a outras escalas e contextos, sobretudo nas paróquias urbanas em consolidação. Surgiram, deste modo, várias igrejas inspiradas neste programa, como as igrejas de São Domingos de Benfica, Santo António dos Cavaleiros ou de Nossa Senhora da Conceição nos Olivais Sul. Esta investigação será o primeiro contributo de fundo para o conhecimento histórico, a valorização sociocultural e a divulgação desta proposta singular no seio da história da arquitetura religiosa.

Objetivos do projeto

Com este projeto pretendemos contribuir para um melhor conhecimento dos processos e lógicas de participação da Igreja Católica na modernidade, através do estudo da inscrição, num espaço territorial e urbanístico em acelerado processo de transformação desde a década de 1950, das capelas-salão, apresentadas pelo Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado (SNIP) como uma tentativa de resposta às necessidades verificadas em diversas localidades, no quadro de uma nova conceção de Igreja e do seu papel histórico na sociedade.

Considerando que ao longo das décadas de 1970 e 1980 foram construídas cerca de 30 capelas-salão, numa tradução em obra de sete dos dez projetos-tipo concebidos pelo SNIP, a investigação fará um registo aprofundado das sete capelas-salão que melhor representam cada um dos sete tipos edificados. São as seguintes:

  • Tipo A: Capela-Salão de S. João de Deus, Achada, concelho de Mafra.
  • Tipo B: Capela-Salão de Nossa Senhora de Fátima, Casais de Britos, concelho da Azambuja.
  • Tipo C: Capela-Salão de Nossa Senhora de Fátima, Alvide, concelho de Cascais.
  • Tipo D: Capela-Salão de Nossa Senhora de Fátima, Galinheiras, concelho de Lisboa.
  • Tipo F: Capela-Salão de São Miguel, Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos.
  • Tipo G: Capela-Salão de Santa Suzana, Santa Suzana, concelho de Sintra.
  • Tipo H: Capela-Salão de Nossa Senhora da Encarnação, Apelação, concelho de Loures.